terça-feira, 13 de julho de 2010

Visões e lembranças

Visões e lembranças

Do campinho de futebol
Daqui, do alto do morro,
Bem pertinho de onde moro,
Avisto boa parte do bairro.

É uma visão privilegiada
Muitas árvores, muito chão
Casinhas bem simples subindo
As ladeiras do mutirão.

Vejo a fumaça que sobe
Por entre as árvores, além...
É alguém assando banana
Que adoro comprar também.

Lá embaixo, no pé do morro,
Outro campinho de futebol
Alguns marmanjos brincando
Pra esquentar no dia sem sol.

A escola... vejo-a de longe
Lembro das tardes bem quentes
Quando por falta de ventilador
O calor maltrata a gente.

Ao seu lado, a caixa d’água,
Que abastece as casas da gente,
Lembra-me as ruas molhadas,
Estrago de água, povo indiferente.

Mais longe o prédio em que funcionava
O único campus da cidade
Horas e mais horas passei ali
Enfrentando monstros de verdade.

Era Célia, Maria José, João Carlos
Cleide, Ete , Rosana
Cledson, Valdeglace, Ériton,
Ádma, Alexandrina e Helena.

E mais outra penca que lembro:
Chico Bento, Graça, Conceição,
Evandro, Audeci, ex- irmã Adriane,
Ribamar e o dedicado Ivo Galvão.

Oh, que saudades dos dias
Em que saíamos da sala à surdina
Pra ver nosso time jogar
Imprensados na cantina.

Mas, voltando ao presente
Olhando mais para o lado
Vejo um campo bem verdinho
E a pastar um manso gado.

São bem poucas cabeças, brancos
Como capuchos de algodão
Em contraste com o verde esmeralda
Do capim que cobre o chão.

Contrastam com as ruas esburacadas
Que cortam o bairro de ponta a ponta
Algumas delas ainda sem asfalto
E a prefeitura não leva em conta.

Em algumas residências movimento:
São mães cuidando da casa,
Meninos correndo pelo terreiro
Sonhando em um dia ter asas.

Povo calmo, povo ordeiro
Que sofre em busca de pão
Que pra sobreviver, como dizem,
Faz das tripas coração.

As mães trabalham de doméstica,
Os pais são agricultores ou diaristas
Filhos ajudam vendendo buriti e açaí
Ou cuidando da casa. Malabaristas!

Mas quando têm uma folguinha
Esses meninos matreiros
Saem pelas ruas em algazarra
À procura de um banho maneiro.

Gostam mais do Tiro ao Alvo
E pra lá passam aos bocados.
Voltam sujos, a pele esbranquiçada
Mas vêm felizes, realizados.

E quando é tempo de soltar pipa
Passam o dia de cara pro céu
Esperando ver uma cortada pelo cerol
E correm atrás como um troféu.

Entram nos quintais, furam os pés
Levam broncas, mordidas de cão
Quem diz que ligam? Dali a pouco
Recomeça toda a confusão.

Brincam de peteca, de futebol
De carrinho de rolimã.
Nem parece ter vida difícil
Acordam sorrindo toda manhã.

Esse é meu bairro, é meu lugar
Morar aqui é minha sina.
Estou aqui desde que vim
Do interior, ainda menina.

(Professora Elisângela Oliveira Silva de Araújo.)