quinta-feira, 6 de outubro de 2011

“DESFAZENDO MITOS, CONSTRUINDO SABERES E DEFENDENDO MORCEGOS”

"O importante da educação não é o conhecimento dos fatos,
mas dos valores." (Dean William R. Inge)


“DESFAZENDO MITOS, CONSTRUINDO SABERES E DEFENDENDO MORCEGOS”

É comum em nossa região, Cruzeiro do Sul – Acre, a entrada de morcegos em ambientes cujas janelas estejam abertas à noite, como escolas, igrejas, casas. Sabem o que ocorre assim que a tal “visita” chega? Isso mesmo: começa a caça ao morcego! Pessoas com vassouras, rodos, pedras e paus perseguem o mamífero até que ele encontre uma saída e fuja (isso se não fecharem as janelas rapidamente para garantir o resultado da caçada) ou até que alguém (que será ovacionado pela plateia depois do feito “heroico”) o atinja certeiramente, matando-o sem dó nem piedade, afinal, por aqui muitos acham que morcego só faz mal e é um símbolo de mau presságio.
Essa atitude, certamente, é fruto da falta de conhecimento sobre esses animais. O que fazer, então, para mudar isso? Essa foi a pergunta que motivou uma sequência de atividades coordenada por mim, professora Elisângela Oliveira Silva de Araújo, e realizada pelos alunos dos 6os anos “A” e “B” da escola municipal de ensino fundamental Francisca Rita de Cássia Lima Pinto, no terceiro bimestre de 2010, por ocasião do projeto interdisciplinar “Meio ambiente: conhecer para preservar”.
Vale esclarecer que a ideia da sequência veio do Material de Apoio Complementar de Leitura e Produção de Textos para alunos do ensino fundamental da Secretaria de Estado de Educação do Acre, elaborado pelo Instituto Abaporu de Educação e Cultura. Uma vez tendo acesso a esse material, achei interessante trabalhá-lo (a meu modo) no âmbito do projeto já citado, pois assim poderíamos, a um só tempo, discutir a temática em questão (Meio ambiente); ensinar os alunos a estudar um tema por meio da leitura de textos informativos; selecionar informações relevantes sobre esse tema, sintetizando as ideias-base; compartilhar - oralmente e por escrito - saberes adquiridos; elaborar folheto explicativo para conscientizar a comunidade escolar e, por extensão, a comunidade cruzeirense sobre a importância dos morcegos para o meio ambiente, dentre outros. Dessa forma, a leitura e a escrita fariam mais sentido, pois estariam sendo realizadas com finalidades específicas, considerando situações e destinatários reais.
Esclarecido isso, convido-vos a voltar um pouco no tempo comigo e visitar minhas duas salas de aula naqueles dias de intenso trabalho e muita agitação (Projeto é assim mesmo!). Entrem e fiquem à vontade, se o calorão permitir.
Para começo de conversa, precisávamos diagnosticar o que os alunos sabiam sobre morcegos. Por isso, apresentamos a seguinte problematização, que deveria ser respondida por escrito por cada aluno: “Uma garota do interior acordou indisposta, descorada, com náuseas e com uma pequena mancha roxa próxima ao pescoço. Todos no povoado afirmam que ela foi atacada por um morcego e que, provavelmente, vai morrer ou virar vampiro a qualquer momento. Por isso, defendem a extinção desses animais que, segundo eles, só fazem mal aos seres humanos. Considerando o que você sabe sobre os morcegos, qual seria sua opinião sobre o assunto? Justifique sua resposta.”
A tarefa seguinte foi a socialização das respostas. Algumas renderam boas risadas (por exemplo, quando um dos alunos sugeriu que a mancha roxa no pescoço da moça seria um “chupão” dado pelo namorado e que ela estaria grávida, por isso os demais sintomas). Confesso que a resposta tinha certa lógica, mas não respondia ao questionamento. Outras, como era de se esperar, revelavam a falta de informação sobre os morcegos, seus hábitos alimentares e sua função no meio ambiente. Nesse momento inicial, não dei nenhum esclarecimento sobre o assunto, no sentido de classificar informações como verdadeiras ou falsas; solicitei que eles mesmos o fizessem, assim, todos ficaram na maior dúvida, sem saber em que informações deveriam acreditar.
Lancei então o desafio: vamos aprender mais sobre os morcegos? Ao som estridente do “SIM!”, sugeri que, para a aula seguinte, cada um trouxesse alguma informação pesquisada (em livros, revistas, enciclopédias) sobre o assunto, para contar para os colegas. Uma boa parte, que não tinha acesso a material de pesquisa em casa, voltou no dia seguinte sem nenhuma novidade; outros perguntaram aos familiares (que não fugiram muito do conceito geral sobre os animais) e, por fim, um pequeno grupo trouxe algumas informações relevantes que foram comentadas por mim. Alguns se surpreenderam ao ouvir coisas positivas sobre os morcegos, chegando mesmo a desacreditar de algumas delas, como por exemplo, que ajudam no reflorestamento.
Depois desse momento, perguntei-lhes se era importante saber sobre os morcegos. A resposta unânime foi positiva. Propus-lhes então a produção do Folheto Informativo, esclarecendo, todavia, que para informar os outros precisamos, antes de tudo, conhecer bem sobre o assunto e organizar as informações, o que levaria algum tempo de estudo e muita disposição.
Combinado isso, fomos ao gênero. Distribuímos entre duplas de alunos folhetos distribuídos localmente sobre Queimadas urbanas, Malária, Trânsito, Dengue, Violência sexual contra a criança, etc. Solicitamos leitura e comentários voluntários sobre o assunto abordado em cada um, a que público se destina, quem o elaborou e com que propósito, sobre a estrutura do gênero, a função das ilustrações e das cores usadas, sobre o tamanho das letras no título e em outras partes. Os comentários feitos eram anotados no quadro de giz e discutidos com a turma.
No final, eliminamos as informações não pertinentes e construímos, em conjunto, um quadro com as estruturas básicas do gênero. Esse quadro foi exposto em cartaz nas salas de aula em que trabalhávamos o gênero, servindo para consulta a cada vez que trouxemos (professora e alunos) um novo folheto para a aula, o que foi feito com frequência. E cada folheto era lido, discutido e exposto em mural.
A atividade de identificação das características do gênero em outros folhetos era feita a partir das seguintes questões: o texto ocupa uma ou mais folhas? Como são organizadas as instruções? Onde está localizado o título? Qual o assunto do texto? É importante saber sobre isso? O texto tem ilustrações? Se sim, para que elas servem? Qual o objetivo desse texto? Quem produziu o folheto? A linguagem é de fácil compreensão? O que você aprendeu sobre o assunto?
Enquanto essa atividade se processava a cada início de aula, no restante do tempo a turma trabalhava em grupos os temas específicos, como: classificação dos morcegos, ecolocalização, crença popular, motivos para conservação dos morcegos, reprodução, alimentos de cada classe de morcegos (previamente preparados em apostilas, retirados de diversos sites, revistas Ciências Hoje para crianças, textos sugeridos pela Abaporu, etc.).
De posse das apostilas, os alunos realizaram atividades como leitura, seleção de informações, resumo dos textos, esquema do resumo, produção de cartaz, exposição dos assuntos estudados para a turma. Vale ressaltar que todas essas atividades tiveram meu acompanhamento permanente, solicitando melhoras, apontando soluções, esclarecendo dúvidas, selecionando material necessário e assim por diante.
Cada apresentação era acompanhada pelos colegas com atenção e, em seguida, fazíamos, em conjunto, o resumo (no quadro de giz e nos cadernos de notas) das principais informações apresentadas. Feito isso, pedi que cada grupo fizesse o primeiro folheto, definindo apenas as seções a serem apresentadas e entregando gravuras a serem escolhidas pelos grupos a fim de ilustrarem seus textos.
Prontos os folhetos, debrucei-me sobre eles, e quantos problemas havia: desorganização, borrões, pobreza de informações, inadequação da linguagem, incorreções gramaticais (ortografia, pontuação, acentuação, concordância...!). Feitas as devidas observações e orientações aos grupos, era hora da reescrita, que, por alguns, foi feita duas vezes. Enfim, trabalho pronto.
Tínhamos agora que escolher o folheto mais apropriado à divulgação. E essa foi uma tarefa difícil, pois todos os grupos queriam ter seu trabalho escolhido. Para resolver o impasse, tive que apontar pontos positivos e negativos em cada um dos folhetos e os grupos iam transformando isso em pontuação. No final, todos aceitaram como justa a maior pontuação dada ao folheto vencedor, mas solicitaram que algumas partes interessantes dos outros folhetos fossem acrescentadas ao folheto escolhido. Nascia outro trabalho imprevisto, mas o aceitei com prazer, pois me pareceu justo, teríamos então um “folheto coletivo”. E assim foi. Restava agora a minha parte: o trabalho gráfico e de impressão do folheto, que saiu aos quarenta e cinco do segundo tempo!
No dia da culminância do projeto e, consequentemente, da distribuição dos folhetos, os alunos estavam visivelmente orgulhosos pelo trabalho realizado e cheios de informações a dar. Creio que o aprendizado ficou e que até hoje esses alunos defendem os morcegos com “unhas e dentes”.

"Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda." (Paulo Freire)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

OLIMPÍADAS DE LÍNGUA PORTUGUESA 2010 ( MARCAS PERMANENTES)

A MAIS INTENSA E MAIS RICA EXPERIÊNCIA EM TODA A MINHA VIDA PROFISSIONAL FOI A PARTICIPAÇÃO NA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2010.FORAM TRÊS VIAGENS (BELO HORIZONTE, SÃO PAULO E BRASÍLIA); CONQUISTA DE TODOS OS PRÊMIOS DISPUTADOS (2 DVDs, POR SER A AUTORA DOS DOIS MELHORES RELATOS DE PRÁTICA DO POLO REGIONAL NORTE; SEIS MEDALHAS PELOS TEXTOS DE MEUS ORIENTANDOS (2 DE BRONZE- FASE ESTADUAL; 2 DE PRATA- FASE REGIONAL E 2 DE OURO - FASE NACIONAL), BEM COMO DOIS MICRO-COMPUTADORES COM IMPRESSORA E DOIS APARELHOS DE SOM PORTÁTEIS; R$ 220 EM LIVROS; UM LIVRO COM OS TEXTOS FINALISTAS; DOIS ABRAÇOS DO PRESIDENTE LULA; VÁRIOS AMIGOS DE DIFERENTES ESTADOS; MUITA HISTÓRIA PARA CONTAR E LEMBRANÇAS QUE SERÃO ETERNAS.
NADA PAGA A EMOÇÃO DE OUVIR O NOME DE SEU ESTADO, DE SUA CIDADE, DE SUA ESCOLA, DE SEU ALUNO E O SEU NUM EVENTO DAQUELA DIMENSÃO. FOI UMA DAS PRIMEIRAS VEZES QUE MINHAS PERNAS NÃO QUERIAM OBEDECER AO COMANDO DO CÉREBRO. ISSO SEM FALAR NO FEITO INÉDITO, A PRIMEIRA PROFESSORA A SER CAMPEÃ EM DUAS CATEGORIAS TEXTUAIS (MEMÓRIAS LITERÁRIAS E ARTIGO DE OPINIÃO) E CAMPEÃ NOS DOIS RELATOS DE PRÁTICA!!! O QUE EU QUERO MAIS, MEU DEUS?
DEPOIS DE TUDO VIVIDO, ME PEGO A PENSAR: COMO FOI QUE TUDO ISSO ACONTECEU? NEM EU SEI DIZER DIREITO, MAS FORA AS INCANSÁVEIS HORAS DE TRABALHO, A SERIEDADE NA AÇÃO, O APOIO DA FAMÍLIA, A FORÇA DE VONTADE E A PERMISSÃO DE DEUS, NADA MAIS EXPLICA ESSE SUCESSO. SIM, PORQUE TUDO É DELE E PARA A GLÓRIA DELE. OBRIGADA, MEU DEUS, POR TUDO!!!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Texto de Memórias campeão da OLP 2010

CHÃO VARRIDO
Não quero esquecer aquele cantinho só meu, cheio de vida, de sons e de cores que há muito tempo só existe em minha memória: a casinha de tábua onde morávamos; o fogão a lenha num dos cantos da cozinha, que tisnava tudo, manchando de preto narizes, paredes e teto de palha; a casa de farinha – lugar de suplício para mim, que odiava lavar mandioca - e a densa floresta ao redor, interrompida por pequenos roçados, de onde papai e mamãe tiravam, com muita dificuldade, o sustento da família...
Ali, meus velhos só viviam para o trabalho. E aos sábados, que nem burrinhos de carga, lotados de cestas e caçoás, iam ao antigo mercado vender o que colhiam na lavoura e comprar o rancho, como denominavam a feira semanal.
Eu, menina levada, e minhas três irmãs, apesar dos trabalhos que éramos obrigadas a fazer (“pastorar” arroz, raspar e lavar mandioca, arrancar ervas daninhas dos roçados), nos divertíamos também. Brincávamos de casinha, de esconde-esconde e, às vezes, quando papai nos mandava “pastorar”o plantio de arroz, para enxotar os passarinhos, nós aproveitávamos para jogar pedrinha – diversão arriscada, que papai nem sonhava acontecer! Por isso, quando o víamos vir em direção ao roçado, começava a gritaria desenfreada: “Xô, passarinho, xô!”.
Mas eu gostava mesmo era de ir ao roçado sozinha, porque ali procurava um galho de alguma árvore caída e passava a tarde me balançando e cantando o mais alto que eu podia. Eu adorava cantar e achava que estava abafando! Gostava de ouvir o eco da minha voz mata adentro...
Porém, as lembranças que mais me emocionam são da natureza e da simplicidade da vida naquele recanto: os riachos de água límpida e fria, onde passávamos parte do tempo nos banhando, mesmo a contragosto de nossos pais; as plantinhas de cores variadas, cheias de besouros coloridos; as espigas de milho, que para mim eram bonecas de cabelos lindos, cor-de-rosa, amarelinho, esverdeado...; os passarinhos diversos: rolinhas, curiós, beija-flores, sanhaços e outro montão que nem me lembro mais os nomes... Nunca me esqueci do canto da passarada ao amanhecer: era um trinado sem fim, uma festa diária na mata. Durante o dia, o céu limpinho me parecia ter sido varrido por alguém, assim como eu varria o terreiro. Santa inocência!
E as noites de verão? Como me encantavam as sombras das árvores que a lua cheia projetava no terreiro, onde ficávamos até mais tarde observando as estrelas, contando-as, nomeando-as, e elas me pareciam mais numerosas que hoje, penduradas no céu como enfeites de árvore de Natal... De repente, aquele estado de contemplação era interrompido por um tiro no meio da mata. Era uma armadilha de papai anunciando que havia uma paca ou tatu para o almoço de domingo. E lá se ia meu velho herói, portando um terçado, uma lanterna a pilha, e acompanhado de um vira-lata corajoso em busca da caça já agonizante. Tempos bons aqueles!
Mas, hoje, só saudades... Daquele lugar mágico, que minha memória resgata com tanta vivacidade, só vejo breves resquícios, prestes a se desfazerem também. Aquela exuberância em verde e vida de toda a natureza ao redor foi apagada em nome do progresso. Pouco a pouco, o verdor da floresta foi sendo engolido pela motosserra, as águas, lambidas pelo fogo, as matas tombaram pesarosas e cederam lugar a ruas, casas, igrejas, escolas, pastos... E eu, impotente, assisti a tudo, dando a cada dia um novo adeus lacrimejante a algum elemento que se ia embora, sem chances de regresso.
Mataram-me a mata e parte da minha história, destruíram meu castelo de sonho, e nada pude fazer para impedir. Aquele mundo encantado, que existiu concretamente, e que ficava aqui em Cruzeiro do Sul, interior do Acre, agora é abstrato, só existe em minha memória.
Eduarda Moura Pinheiro, 7o ano “B”, Escola Francisca Rita de Cássia Lima Pinto

domingo, 21 de novembro de 2010

Melhor Relato de Prática de Artigo de Opinião do Polo Regional Norte

“A prática de pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo.” (Paulo Freire)


QUANDO OS SONHOS DRIBLAM AS CIRCUNSTÂNCIAS ADVERSAS
Por: Elisângela Oliveira Silva de Araújo
Eu sempre soube que somos seres verbais. Que a palavra é nossa ferramenta mais íntima, nossa companheira mesmo no silêncio e na solidão, quando nossos pensamentos conjecturam futuros diálogos, relembram dores e alegrias, projetam sonhos... No entanto, apesar dessa nossa relação constante com as palavras, nem todos a usam da forma mais eficiente possível, o que explica a responsabilidade da escola no sentido de promover a inclusão linguística, dando ao aluno a possibilidade de um uso consciente e eficaz de sua língua materna.
Foi com essa compreensão e com muita ansiedade que recebi o material da Olimpíada voltado para a produção do Artigo de Opinião. No dia-a-dia, estamos sempre expondo nosso ponto de vista sobre assuntos variados: futebol, política, fatos cotidianos, ações. Ocorre, porém, que nem todas as vezes que fazemos isso apresentamos um argumento que realmente dê legitimidade ao nosso ponto de vista. Vejo muito isso em sala de aula. Parece que o importante para o aluno é ter um ponto de vista, mesmo que não o saiba justificar, e esta realidade me soa bastante cultural. Era chegada a hora de mudar essa realidade, de fazer o aluno entender que só nos fazemos respeitar por meio do argumento consistente, debatendo e discutindo com firmeza nossa realidade, assegurando o papel ativo de cidadão. Em outras palavras: estava na hora de aprender a usar melhor essa ferramenta tão nossa chamada palavra.
Em primeiro lugar, era preciso incentivar. Além de falar do concurso e de sua premiação, acrescentei que as ações a serem desenvolvidas dali por diante melhorariam o desempenho de cada um na leitura e na escrita, e que essas são para a vida toda. Disse-lhes também que aprender a argumentar e defender um ponto de vista salva casamento, mantém amizades, garante emprego, reconquista amores... Iniciei os trabalhos com um pequeno debate a partir do tema “Desastres naturais: causas naturais, reação à ação do homem ou fúria de Deus?” Meu objetivo era realizar uma diagnose que me desse uma noção mais exata de como agiam meus alunos diante de uma polêmica. Obtive o que queria, mas fiquei muito preocupada em como mudar o quadro que me foi exposto.
Percebi que alguns alunos desrespeitavam a opinião alheia (com frases do tipo: “Não tem nada a ver o que você disse” ou “Quem acha que Deus decide essas coisas é um ignorante”), parte de suas opiniões era fruto de preconceitos, não sabiam expor suas ideias de maneira clara e, quando questionados, dificilmente tinham argumentos realmente bons para justificar o ponto de vista que assumiam, ficavam no “Porque sim!” – ainda em tom agressivo. Diante desses dados, analisei com eles o debate, apontei os problemas percebidos e os incitei a buscar melhorias. Eles aceitaram o desafio.
Nas três primeiras oficinas, houve um grande entusiasmo de boa parte deles: discutiram os textos, trouxeram notícias coletadas em casa e as expuseram no jornal-mural de classe, realizaram uma pesquisa sobre o gênero em estudo e apresentaram o resultado do trabalho para a classe, deram suas opiniões oralmente e por escrito sobre a notícia “Menino de 9 anos é internado após agressão em escola”, mostrando-se bastante conscientes da necessidade do respeito às diferenças, como se vê nos trechos que faço questão de expor a seguir: “O preconceito não tem nenhuma razão de ser. Se Deus nos vê a todos de igual modo, quem é o homem para nos julgar pela aparência? “(Maria Helena Couto); “Está mais do que na hora de cada ser humano aprender a respeitar as diferenças, de amar ao próximo, seja ele quem e como for, pois só assim teremos uma sociedade melhor para viver.” (Suiane Souza)
Se todos os começos são flores, como diz o provérbio popular, da oficina quatro em diante não era mais começo. Os espinhos se apresentaram. Como acharam difícil encontrar ou formular questões polêmicas a partir de fatos nacionais e locais, os alunos mostraram-se desmotivados a realizar as atividades. Disseram que seria difícil encontrar questões polêmicas locais para trabalhar; na opinião deles “aqui em Cruzeiro do Sul nada acontece de polêmico”. Senti então a necessidade de mostrar-lhes que nossos jornais estavam repletos de fatos que envolviam polêmicas.
Solicitei então que trouxessem para a aula seguinte todos os jornais que encontrassem e, diante das notícias lidas por eles mesmos, levei-os a perceber que muitos fatos poderiam gerar confronto entre diferentes pontos de vista, e exemplifiquei perguntando: Deve-se punir um patrão que, mesmo pagando mal e não dando as condições de trabalho adequadas para seus empregados, gera emprego e renda para pais de famílias carentes?; O IBAMA deve usar de razoabilidade na aplicação da lei quando se envolve sonho de famílias carentes? Deve ser proibida a venda de gás nas gaiolas? As diferentes respostas que deram fê-los perceber o quanto tínhamos de polêmica para discutir. Senti-os empolgados diante dessa possibilidade, muitos alunos passaram a ver de modo diferente as notícias locais, e sempre que liam uma nova, levavam-na para a sala e conversavam comigo para ver se a mesma dava uma boa discussão para o texto final. E assim, o trabalho foi acontecendo.
O segundo debate realizado, cuja polêmica a ser discutida era “A mulher tem o direito de tirar a vida de um filho em gestação?”, apresentou alguns avanços. Houve apresentação de dados estatísticos, opinião de lideranças religiosas e médicos, respeito à opinião alheia e melhor articulação das opiniões e argumentos. É claro que nem todos avançaram em todos os aspectos, mas, de modo geral, os alunos entenderam o modo como se deve posicionar diante de uma questão polêmica e quais os argumentos mais adequados para se fazer isso, como os de princípio e crença pessoal, os de autoridade, os de exemplificação, etc.
Após comentar os pontos positivos e negativos do debate, solicitei a primeira produção de artigo, a partir do tema debatido. Em seguida, os alunos foram orientados a trocar os textos entre si e a sugerir as possíveis mudanças que julgassem necessárias. Alguns textos apresentaram boa qualidade, com vozes de especialistas, conceitos científicos e bons argumentos pessoais. Já outros ficaram apenas no lugar comum, sem aprofundamento, sem novidades. Conversamos com os autores dos textos de qualidade inferior e solicitamos a reescrita dos mesmos, baseada nas observações feitas pelos colegas e por mim. Os textos reescritos foram expostos no jornal-mural e era visível a melhoria dos mesmos.
Mas, voltando ao trabalho com os artigos propostos no Caderno do Professor, muitos alunos já se mostravam intolerantes com a análise dos textos. Um deles disse: “_ Já estou enjoado de ler esses textos e não entender quase nada.” Perguntei-lhes então se os textos eram complexos e, para minha surpresa, o coro respondeu: “_ Simmmmmmm!” Segundo eles, os assuntos tratados nos textos e a linguagem dificultavam a compreensão e a análise. Busquei então outros artigos de assuntos mais comuns, cuja linguagem considerava mais objetiva. Foi-me muito útil nesse momento o Caderno do Professor: Pontos de vista, 2a edição, de onde escolhi alguns textos, dentre eles “Violência não, educação sim”, p.67; “A futura gestão dos recursos hídricos”, p. 70; “A cobrança da água”, p. 76; etc. Após essa escolha, percebi que as discussões fluíram com mais naturalidade e que os objetivos propostos foram alcançados, dentre eles, conhecer as expressões que articulam o artigo de opinião, identificar os tipos de argumentos utilizados e as diferentes vozes com as quais os autores dialogam.
Outros textos foram produzidos e/ou reescritos, em grupos e individualmente, colocando em prática os conhecimentos adquiridos, buscando a articulação dos parágrafos e argumentos entre si, conversando com diferentes vozes, usando os diversos tipos de argumentos e muito mais. Percebi que a cada etapa vencida as melhoras se acumulavam e a empolgação crescia.
Foi nesse clima que propus a pesquisa das questões polêmicas locais e cada grupo apresentou empolgadamente seu trabalho. Mas na hora de escolher uma questão única para a produção do texto final, nenhum grupo quis abrir mão de sua questão para acatar a dos colegas, diziam-se familiarizados com seu temas e já estarem pensando a quem entrevistar e que informações buscar.
Não vi isso como um ato de egoísmo, mas como uma questão de empatia com aquilo que construíram em grupo. Decidi então que cada uma das equipes trabalharia com a questão que escolheu, afinal, isso só representava problema para mim, que teria que estudar muito mais para atender a cada um em particular, dominando cada tema escolhido, mas como não tenho medo de bicho-papão... Resolvido o impasse, começou a busca pelas diferentes opiniões, coletadas por meio de entrevistas e pesquisas em livros e internet. Como era de se esperar, nem todos os grupos cumpriram essa etapa de forma satisfatória, o que gerou alguns textos finais pobres de argumentos e sem as diferentes vozes em discussão.
A revisão e reescrita dos textos durou duas semanas inteiras. Todos puderam reler suas produções e, a partir do roteiro para análise de produção, foram orientados para a reescrita. Atendemos cada um individualmente, fazendo correções e intervenções, sugerindo melhoras. Era até onde podíamos ir. Em sala, a missão estava cumprida, os alunos demonstraram aprendizado, evolução. Agora, era esperar...
E que longa espera foi aquela entre a etapa escolar e a regional! Mas pensem qual não foi a alegria quando soubemos o resultado! Imaginem alcançar este feito um aluno de uma escola discriminada por sua localização entre bairros periféricos com alto índice de violência, vista por alguns como “a pior da cidade”, como disse um dia o pai de um aluno! Era um sinal definitivo de que o lugar e a situação não importam, o que importa é trabalhar com seriedade e acreditar: acreditar no alcance que pode ter nosso trabalho, acreditar no potencial de nossos alunos e, acima de tudo, acreditar no futuro!


“O mestre pode ser ponte, mas a travessia é feita pelo aluno”.
(Sant’ Anna, 1997)

domingo, 14 de novembro de 2010

Melhor Relato de Prática de Memórias do Polo Regional Norte - Olimpíadas 2010

AQUECENDO A ÁGUA: UMA LUTA CONTRA O DESCRÉDITO

Por: Elisângela Oliveira Silva de Araújo

Era vinte e um de maio... Entrei na sala mais que carregada, parecia um daqueles animais de carga que antigamente transitavam nas poucas ruas enlameadas de minha cidade, levando para o Mercado Municipal a produção rural de seus proprietários. Os alunos estavam ansiosos para saber o que significavam a presença da TV em sala, aquele calendário afixado na parede, aqueles livros num cestinho e aquelas fotografias que foram dispostas no quadro-de-giz.
_ “Vamos assistir a um filme, professora?”
_ “A aula de leitura vai ser hoje?”
_“De onde são estas fotos?”
E em meio a ansiedade e aos arroubos interrogativos, desfiz o mistério: “vai começar a corrida contra o tempo ( afinal já era 21 de maio!) e a busca por um lugar no pódio"". Quem vai querer participar da maratona de produção de Memórias?” Quando lhes falei das etapas da competição e que a mesma se daria em escala nacional, mesmo diante de minha empolgação, veio um balde de água fria de um veterano “do fundão”:
_ Professora, ninguém dessa escola tem a menor chance de ganhar!
_ É mesmo! – reforçaram outros.
Pensei comigo: “Não vai ser nada fácil.” Mas como não me dou por vencida facilmente, começou a “Olimpíada do Incentivo”. Falei a eles de nossas possibilidades, de como seria o trabalho e da importância da realização do mesmo não só pelo prêmio, mas, principalmente, pela possibilidade que todos teriam de aprender mais, de melhorar a leitura e a escrita, de conhecer melhor o lugar onde vivem, de realizar descobertas que nunca imaginaram, de criar laços de identidade com seu espaço de vivência, de conhecer a experiência das pessoas idosas...
Quando percebi que alguns começaram a simpatizar com a ideia, dei o pontapé inicial ao trabalho, perguntando que lugares e cenas eram as retratadas nas fotografias que estavam expostas no quadro. As respostas foram intrigantes, pois revelavam um desconhecimento quase generalizado de como era a cidade há quarenta e tantos anos. Aproveitei para dizer-lhes do quanto ainda poderíamos descobrir durante a realização da Olimpíada. Todos começaram a se empolgar. Alguns ficaram sensibilizados em saber que nossa cidade, Cruzeiro do Sul - Acre, ainda tão nova (apenas 106 anos), já tinha no histórico a morte de um pequeno rio – o Boulevard –, que se transformou num esgoto bastante conhecido de toda a população.
Outro grande incentivo foi dado com a exibição do vídeo (enviado em 2009 aos professores participantes das oficinas de treinamento em cada município), que traz a entrevista do artista João Acaiabe a alunos semifinalistas da OLP em 2008 e a retextualização da mesma, feita por duas alunas naquela ocasião. Foi um momento muito positivo, pois eles começaram a achar que o trabalho não seria tão complicado assim (mas como se enganaram!).
A partir desse momento, com os alunos devidamente incentivados, dei início às oficinas propriamente ditas. Nas aulas seguintes, ouvimos, lemos e comentamos alguns dos textos sugeridos na Coletânea. Foram momentos bem alegres e surpreendentes. Não me esqueço de quando os alunos ouviram os sons característicos de bateria de escola de samba, reproduzidos no texto “Transplante de menina”, de Tatiana Belinky. Foi uma festa só: imitavam nas carteiras o barulho dos tambores, sambavam e riam animados. Aproveitei o momento para falar a eles que um texto de Memórias deve ser assim: ter o poder de nos transportar para o lugar descrito e para a situação narrada, surpreender com os detalhes e as impressões, nos fazer “sentir”cheiros, “ver”cores e “ouvir”sons...
Diante das narrativas de memórias, no entanto, o que mais me surpreendeu foi a atenção com que os alunos ouviam os textos. No fim de cada narração, todos queriam ouvir novamente, participavam ativamente das discussões, dando opinião, respondendo aos questionamentos, retomando partes do texto para exemplificação, e muito mais.
Assim, chegamos ao conceito do gênero Memórias e a diferenciação entre ele e os gêneros Diário e Relato histórico, cujas características muito se assemelham. Em seguida, apresentei a eles os poemas “Infância”, de Carlos Drummond de Andrade e “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu . Solicitei que eles comentassem tais poemas, falando de seus conteúdos e do que perceberam de familiar nos mesmos. Queria que eles percebessem que aqueles poemas registravam as memórias de seus respectivos eu líricos. Por isso, achei interessante quando um deles disse: “_ Estes textos são memórias disfarçadas de poema.” Entendi ali que eles começavam a se familiarizar com o gênero, percebendo-o até mesmo em uma estrutura diferente da comum.
Até este momento o trabalho fluía bem, mas chegou o momento das entrevistas iniciais e da coleta de objetos antigos, que retratassem momentos passados de nossa história. A dificuldade foi grande, primeiramente porque os alunos pareciam indispostos a sair em busca de pessoas para contar suas memórias. O trabalho deveria ser feito em grupo, mas alguns deixaram de ajudar aos colegas, gerando desentendimentos e trabalhos individuais, o que significa dizer que alguns não contribuíram com este momento tão importante da atividade.
Outra dificuldade enfrentada foi o fato de as pessoas de mais idade do bairro não quererem contar suas memórias (punham como barreira o analfabetismo, o “não saber falar”). Os que se dispuseram a assumir o lugar de entrevistado não se aprofundaram muito nos relatos, ficaram restritos ao fazer diário na roça, nos seringais, na descrição seca da cidade e de seu crescimento. A coleta de objetos antigos e imagens também não rendeu o que esperávamos: algumas poucas fotografias de pessoas, apenas; objetos como talão de conta de energia, ralador de coco e poronga (ou lamparina).
Durante a exposição dos dados e objetos coletados e diante da primeira produção individual, pude perceber que as pessoas que foram entrevistadas não demonstravam apreço por este lugar e muito menos guardavam dele lembranças realmente significativas. Parece que a dureza da vida nesse recanto do país é uma cortina que lhes impede de ver o que há de positivo no lugar, as lembranças são amargas, a memória foca apenas as dores, os pesadelos da vida.
Diante disso, tive que repensar o trajeto rumo ao texto final e à construção de uma identidade do aluno com o lugar onde vive. Procurei saber deles a visão que tinham da vida em Cruzeiro do Sul, e confesso que não era muito diferente da de seus pais e avós. Senti que era hora de mudar essa realidade. Como os pais e avós dos alunos não queriam vir até à escola, fui até eles. Sondei suas memórias por meio de perguntas bem específicas e assim consegui alguns relatos interessantes, resgate de brincadeiras e formas de viver do passado, descrições detalhadas do espaço e, surpreendentemente, saudades de um tempo que se faz superado em muitos aspectos.
Voltei para a sala de aula bem motivada e cheia de experiências para contar, que estrategicamente deixei para mais adiante. Enquanto isso, o trabalho com o gênero seguia a todo vapor: analisávamos a estrutura, as marcas linguísticas e a linguagem figurada; reescrevíamos trechos de textos; investigávamos o modo como cada autor comparou o passado e o presente; retextualizávamos entrevistas, mudando o foco narrativo e produzindo memórias...
Ao longo desse processo, os alunos também foram convidados a criar suas memórias pessoais e a descrever as mudanças pelas quais passou a cidade nos últimos quarenta anos, através da análise das fotografias que consegui coletar, das entrevistas que fizeram e do modo como veem nosso município na atualidade.
Por fim, chegou a hora da produção final. Em grupo, decidimos que ela seria feita não a partir de uma entrevista, apenas, mas da junção de todas elas: uma memória coletiva. Foi nesse momento que entraram as entrevistas que fiz com diversas pessoas. Repassei todas as informações que coletei, mostrei os vídeos gravados, para fazê-los sentir a emoção dos entrevistados, e acrescentei minha visão sobre nosso lugar, uma vez que, apesar de não ser tão velha assim, sou uma das pessoas que mora no bairro há mais tempo e vi todas as mudanças significativas pelas quais ele passou: a destruição da vegetação nativa para a criação de gado e construção de casas, como as do mutirão onde fica a escola e a maioria dos alunos moram; a degradação do único igarapé do bairro, o Tiro ao Alvo, destino certo da população nos dias de domingo; o fim da Associação de Moradores, local de festas e reuniões; o asfaltamento das ruas; a construção do posto de saúde; a reforma do estádio, dentre outras. Muitos alunos pareciam emocionados e surpresos diante do que descobriam, as perguntas afloravam com naturalidade, os comentários davam a certeza de uma nova e positiva visão de espaço, pois todos agora entendiam que muita coisa não deveria ter mudado e que é importante conhecer e sentir-se parte do lugar onde se vive.
Foi esse clima de pertencimento e essa efervescência de informações e impressões que deram lugar aos textos de cada um – textos bons, razoáveis e ruins. Era a hora da revisão e da reescrita. Assim, após a leitura de cada texto, os próprios alunos foram convidados a opinar sobre o que melhorar nos textos dos colegas. Em seguida, atendi individualmente a cada aluno, orientando e fazendo intervenções, de modo que cada texto ganhasse em qualidade, atendendo com eficácia a situação de produção.
Relembrando todo o caminho percorrido, ficou a sensação de dever cumprido, pois além de permitirmos o aprimoramento da leitura e da escrita dos alunos, buscamos ainda fazer com que se sentissem parte integrante do lugar onde vivem, orgulhando-se de nossa história e valorizando as experiências de vida dos mais velhos. E, contrariando o pessimismo do veterano “do fundão”, descobrimos juntos que todos têm chance, basta querer: o anúncio da classificação do texto de Eduarda Moura Pinheiro para a semifinal foi a prova disso. Era o fim do pessimismo, a água do balde estava aquecida!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Artigo de Opinião campeão da OLP 2010

A VIOLÊNCIA ADENTROU OS MUROS DE NOSSAS ESCOLAS: E AGORA?

A violência pode ser designada como uma transgressão da ordem e das regras da vida em sociedade, e esse conceito se aplica com eficácia ao que tem se visto ultimamente em nossa Cruzeiro do Sul, cidade que, apesar de pequena, já vivencia dramas outrora associados mais a grandes metrópoles, como assaltos, assassinatos, estupros, dentre outros.
Essa nova realidade que temos vivenciado é preocupante, mas se torna ainda mais assustadora quando percebemos que a escola, espaço antes reservado à formação de cidadãos aptos para atuar de forma ativa e pacífica no meio social, também está sendo invadida por ocorrências policiais. Além das já conhecidas depredações, vandalismos e agressões verbais, agora é a vez da agressão física, como bem pode exemplificar o caso da aluna de 14 anos agredida e esfaqueada pela colega de turma da escola Thaumaturgo de Azevedo.
Esse fato em específico, bem como os casos de elementos armados em busca de vítimas no interior da escola Craveiro Costa, tem preocupado a população cruzeirense de forma geral. A pergunta que eu faço é: “Podemos fazer algo para mudar essa realidade?”.
A voz de quase todos apela para a presença de seguranças armados nas escolas. Outros acham que é a educação para a paz que pode resolver o problema. Ainda há aqueles que veem a família como a chave da resposta, desde que volte assumir seu papel de educadora. Os mais descrentes na ação humana dizem que só Deus para reverter a situação.
Para a diretora do colégio Craveiro Costa, Maria Íria Matos Bandeira, a violência é um problema da escola e de todos, mas não concorda que a repressão resolva. Segundo ela, a parceria com os pais de alunos e com o Conselho Tutelar e a presença de psicólogos e assistentes sociais no ambiente escolar seriam as principais ferramentas a serem usadas no combate que empreendemos atualmente.
André Kamai, assessor do governador Binho Marques, entende que o maior poder de interferência nessa realidade está nas mãos da escola. Diz que esta deve incidir na vida dos jovens de forma direta e em sua plenitude, para que dessa forma o jovem se sinta parte da escola porque nela constrói seu projeto de vida.
Pessoalmente, acredito que esse seja definitivamente um problema de todos e todas as formas de atuação que pensamos poder resolvê-lo devem ser postas em prática o mais rápido possível. Por isso, considero positivas ações como a passeata realizada há poucos dias pelas escolas Maria Lima e Craveiro Costa nos bairros onde estão instaladas, Cobal e Remanso, respectivamente, considerados dos mais violentos do município e que interferem no dia a dia destas escolas, através de vândalos e agressores que invadem as dependências das mesmas.
Sou também a favor da criação de uma Guarda Escolar que atue no sentido não de reprimir ou intimidar, mas de garantir a harmonia na escola e nos arredores dela. Apoio ainda a presença dos pais nos colégios, a iniciativa de oportunizar aos estudantes a sugestão de medidas que considerem capazes de apaziguar os ânimos dentro da instituição em que estudam e principalmente trazer diferentes profissionais que reconhecidamente possam assegurar aos educandos uma oportunidade de serem ouvidos nas suas angústias.
Não concordo em absoluto com os que acham que só Deus pode resolver a situação, ou seja, que todos cruzem os braços achando que não tem mais jeito. Temos que acreditar no amanhã e na força do nosso trabalho consciente; se não acreditarmos nisso, então para que esse grandioso projeto, repleto de paixão, sonhos e esperança, que é a educação? Estamos falando do futuro – isso não é brincadeira!
O problema, como já foi dito, é de todos; então toda a sociedade cruzeirense (para ficar mais restrito) deve cumprir seu papel no sentido de formar nos jovens a cultura da não violência, restituindo à escola a paz que antes reinava dentro de seus muros, e, assim, por consequência, estaremos alcançando também seu além-muro.
Mateus Albuquerque de Souza, aluno do 2o ano do Ensino Médio da Escola Craveiro Costa, para a Olimpíada de Língua Portuguesa 2010.